Pra que ficar juntando os linkzinhos…

…se este blog se acabou?

Mas foi tão legal! Adorei o WordPress, adorei aprender a acompanhar as estatísticas, links e pesquisas do google.  Adorei os comentários, adorei os novos coleguinhas. Adorei o sumiço de algumas pessoas! Adorei receber apoio num momento difícil.  E sinto falta de alguns que eram leitores muito legais.

Se você está lendo essa página, seguiu algum link antigo ou bateu aqui na internet buscando “Manauaras Transando” “amazonenses peladas” “quero uma mulher”ou coisa pior, saiba que estou indo embora, oh baby, baby. Mas não vou jogar este blog no pano de guardar confetes.

*****

Comecei a fazer blog naquele boom que teve em 2003. E, desde aquela época, eu queria escrever num lugar melhor. Onde eu pudesse ter um bom template,  onde fosse mais divertido ler o que eu dizia.

Eu queria um domínio próprio. E estive a um passo de conseguir isso ao menos duas vezes, em 2004 e 2006. Ainda bem que não consegui. Ainda não era o momento certo.  Não tinham aparecido as pessoas certas. Agora apareceram.

O Coisas de Manauara permanece aqui, on-line, arquivo do que escrevi. Coisas tolas e coisas boas.  Coisas tocantes e coisas nauseantes. Não apago.

Vou prum domínio próprio. Vou prum condomínio de blogs. Vou ganhar dinheiro escrevendo em blog. [Alguns centavos por clique, é verdade, mas quem liga? É dinheiro!]

Vou pro Interney Blogs.

Mais que isso: vou pro Cintaliga.org, escrever com a Patrícia e a Luciana, duas meninas legais, que me chamaram pro blog delas. Eu perguntei: “mas eu posso continuar escrevendo as bobagens que eu gosto?” E elas: “Menina, o blog É SEU, entendeu? É seu e nosso.”

Um dos meus blogs favoritos. Duas grandes blogueiras, duas moças sensíveis. Duas amigas, sim. Textos lindos. Template magnífico.

Ponto Órgue, gente, agora eu sou Ponto Órgue.  [Grande coisa, dirão alguns. É isso mesmo,i grande coisa, eu estarei escrevendo feliz num domínio ponto órgue. ]

O Morango Com Gengibre continua. Eu e Poeta deleitaremos vocês periodicamente com textos quentes e doces. E eu continuarei botando os links lá no Cintaliga.

Estou muito, muito, mas MUITO MESMO, muito feliz. E, mais importante que dinheiro, mais importante que Portal, mais importante que domínio próprio, escrever é meu prazer. Escrever direito, num lugar legal, em boa companhia…ah, é um orgasmo. Com três mulheres juntas. [Delira, Google.]

Atualizem os rss, os bookmarks, os del.icio.us, os favoritos, os bookmarks. A memória. Menina Eva, a partir de amanhã, no Cintaliga. Escrevendo do mesmo jeito que sempre fiz.

Só que, a partir de amanhã, MELHOR. Porque, oh baby, baby, eu nasci pra ser melhor a cada dia.

quinta-feira, 18 / outubro / 2007 at 12:38 am 17 comentários

Debaixo dos caracóis

Meu cabelo é meu zen, meu bem, meu mal. Meu cabelo é volumoso, cacheado, rebelde, elétrico, difícil. E eu nasci nos anos oitenta, né. Ainda não tinham inventado o o leave-in, nem o babyliss. Minha mãe teve muito trabalho com ele. Lembro que eu me olhava no espelho e me achava bem parecida com a Maria Bethânia. Eu devia ter orgulho, né? Mas não. Eu chorava de vergonha do meu cabelo, e da dor dos puxões e escovadas. Minha mãe não era torturadora não, meu cabelo é que era impossível.

A Irmã do Caetano

Meus queridos e cruéis coleguinhas da escola me chamavam de Medusa. Quanta meiguice. Todo dia eu brigava com a mamãe, implorando pra que ela prendesse meu cabelo, fizesse tranças, rabo-de-cavalo, qualquer coisa pra escondê-lo. E ela dizendo que prender o cabelo todo dia fazia mal, quebrava, mofava o cabelo [MOFAVA!]. Em suma: nos dias em que eu ganhava, eu conseguia estudar sem cabelo na cara. Nos dias em que ela ganhava…bem, eram dias ruins.

E eu, a gordinha nerd que gostava de bossa nova e Monteiro Lobato, tinha cabelo ruim e um gênio furioso. Tava feita, né? As meninas me achavam ridícula, e os meninos, bem… Ficavam longe.

Tudo começou a mudar quando eu fiz doze anos e vi uma reportagem na TV que abriu meus olhos. Não lembro mais em qual canal foi; lembro que dizia que o cabelo cacheado deve ser penteado ainda molhado.

Minha vida mudou. Do visual Maria Bethânia, meu cabelo passou a exibir seu lado Ana Paula Arósio [em dia de furacão].

Demorei a convencer minha mãe que era normal ir para a escola com o cabelo pingando e molhando as costas. Ela diz que é “coisa de caboquinha” andar com uma roda escura nas costas da blusa. [O máximo do cafona pra minha mãe é dizer que tal e tal coisa é caboquice ou coisa de caboquinha. ] Eu, que entendo que minha mãe é da época do secador e dos bigudins, da touca de meia e do Oleocap, a perdôo por isso. Só pra espicaçá-la, digo que andar com o cabelo molhado é sinal de higiene. Ela vai à loucura, mas os bons resultados a convenceram.

Preciso lavar a cabeça todo dia, gastar muito creme de pentear(veja na foto abaixo), ter uma grande coleção de prendedores de cabelo, e suportar a inveja que sinto da minha mãe, que tem uma escova na bolsa e volta e meia escova as melenas em público. Enquanto eu, pobre de mim, não posso sequer enfiar os dedos entre os fios, sob pena de despertar minha Maria Bethânia interior.

Mas eu gosto dos meus cachinhos. E, neste mundo onde as mulheres precisam ser tão maternais quanto a Mãe Coragem, tão cultas quanto Dona Benta, tão bem-sucedidas profissionalmente quanto a Oprah, além de serem Deusas do Sexo e terem uma casa-mostruário de design, e a chapinha acaba por ser o grande instrumento que torna as mulheres musas perfeitas, sem um fio sequer fora do lugar, o meu cabelo cacheado me dá uma agradável sensação de ser humana, falível, real.

Uma mulher ao alcance da mão.

domingo, 30 / setembro / 2007 at 4:50 pm 27 comentários

Atochando (ui!) o rótulo

Falando mal das outras, sem a menor culpa,

no Morango com Gengibre.

domingo, 30 / setembro / 2007 at 2:28 pm 2 comentários

O Centro de apoio aos Autistas e um sofá ressuscitado.

Ives carregando Cláudia Lyra

Aqui em casa tem um sofá delicioso. De quatro lugares, macio, companheiro de nove anos. Já enfrentou uma mudança debaixo de chuva, já sentiu o peso de três namorados meus. Já recebeu a Mamy (na foto, sendo jogada pra cima pelo Ives), e a Allinne-médica-de-passarinhos-morando-em-Milão.

Nele eu me jogo pra ver televisão, com as pernas pro ar. Nele eu sento pra conversar com visitas. Nele eu arremesso minha bolsa assim que chego encalorada da rua. Nele eu jantei muitas vezes, quase sempre tarde. Chegava da faculdade dez e meia da noite, louca de fome, e jantava a sobra do almoço, vendo televisão. Nem um pouco saudável, eu sei. Esse sofá já recebeu muitos respingos de suco, café, água, e Deus sabe mais o quê…

Nesse sofá minha mãe senta, eu sento no chão, no meio das pernas dela, e ela penteia o meu cabelo, cacheado e difícil. Cabelo tão parecido com o do meu pai, tão diferente do dela, liso, pesado, brilhante. Quase todo dia, ela penteia o meu cabelo – e quando eu viajo, é uma das coisas que mais sinto saudade, essa ligação entre duas mulheres que cuidam uma da outra.Nele eu deito todo sábado, depois do almoço, pra cochilar. Meu cabelo molhado deixou muitas manchas irregulares, apesar dos protestos da minha mãe. Um atraso de dez minutos pra colocar o absorvente deixou mais uma marquinha irregular. Um dia de profunda tristeza fez o sofá receber tapas, socos, dentadas e lágrimas, que caíam deixando marquinhas redondas.

E esse sofá amigo conviveu com minha família durante nove anos, apenas acumulando nosso cheiro e nossa gordura, pois o coitado NUNCA havia sido lavado. Mamãe deu um basta nisso. E chamou uma equipe de lavagem a seco – a L&A.

***

A L&A – do nome dos donos, Letícia e Augusto, casadíssimos – lava coisas. Lavam carros, tapetes, carpetes, cortinas. Lavam persiana, colchão, poltrona e estofado de lancha. Lavam bichinhos de pelúcia. Atendem na sua casa, inclusive em domingos e feriados. Fazem lavagem a vácuo, usando o mínimo de água e um super-produto, que, de acordo com a Letícia, é “antibacteriano, antimofo, antitraça, anti-ácaro, limpa profundamente, e perfuma”.

E, o melhor de tudo: a L&A é mais que uma empresa de limpeza a seco. Esse serviço de lavagem em domicílio não tem fins lucrativos.

Letícia coordena o Centro de apoio aos Autistas N. Sª do Carmo. O lucro das lavagens é usado no custeio das atividades do Centro. “Como o autismo é uma deficiência pouco divulgada,é difícil conseguir doações. Então, resolvemos trabalhar e gerar dinheiro. O tratamento do autismo – se é que se pode falar em tratamento – consiste fundamentalmente em fisioterapia e terapia ocupacional. ”

Augusto, um negro lindo, paraense e vascaíno, imenso, metro e noventa de altura, vem acompanhado de um ajudante e de um andróide cinematográfico. (A máquina de lavagem a vácuo é sósia do R2-D2, gente. Eu estive a um passo de pedir um autógrafo).

Mas nem pense em contratar os serviços só pra receber a visita do Augusto, pois a Letícia é gente finíssima – e é ela quem dirige o carro. E, além do mais, ele só fala dela, enquanto liga o R2-d2 e faz aparecer a cor original do sofá. Eu não lembrava mais: o sofá é da cor do Teatro Amazonas, rosa imperial.

Augusto e seu ajudante têm trabalho. São nove anos sem lavagem. A esfregação é intensa, cansativa…e milagrosa. Fiz questão de bater fotos do sofá com a lavagem ainda incompleta, pra se perceber o antes(HORRÍVEL) e depois (surpreendente). Foi um genocídio de ácaros, minha gente.

Nas manchas piores, escovinha. Augusto comenta: “Essa manchinha escura aqui, deve ser sangue, não tá saindo…” E eu desconverso: “Pois é, esses carapanãs com a barriguinha cheia…voando por aí…”

Duas horas de muito esfrega-esfrega, o sofá ainda úmido, Letícia sobe. Vem me contar sobre o “Labib’s dia especial”, que vai realizar em prol do Centro de Apoio aos Autistas. Comida árabe boa de VERDADE (ao contrário de certas franquias famosas que servem esfihas frias e mal temperadas), dança do ventre, teatro de Fantoches. Fiquei de chamar meu grupo de teatro pra apresentar uma peça também. E de recomendar que todos os meus conhecidos lavem seus sofás, cortinas, bancos de carro.

Fiquei tão apaixonada ao ver o empreendedorismo de uma entidade assistencial que NÃO ESPERA POR DOAÇõES, que se eu pudesse, tinha lavado até o cabelo com a ajuda do R2-D2.

Ela fala sem parar, com embasamento científico. É feriado no Amazonas, 5 de setembro, um calor perfeito pra secar sofás recém-lavados. O Augusto é irmão de um portador da Sindrome de Down, que está em tratamento quimioterápico por causa de um câncer no pulmão. A Letícia está com enxaqueca, mas veio me contar tudo sobre seu trabalho- ela é mãe de um rapaz autista. De acordo com ela, se aparece uma mulher feia, ele cospe em cima. Ela brinca dizendo que se eu fosse lá, ele ia ficar abraçado comigo, porque de mulher bonita ele gosta. Prefiro não arriscar. Deixa o Júnior sem emitir opinião.

A Letícia e o Augusto botam um olho comprido no meu sofá rosa-imperial. “Era de um desses que o Centro tava precisando, cê não queria doar ele não?”Ah, Letícia, torce pra acontecer uma coisa bem boa na minha vida que eu faço essa doação. “Já estou torcendo.”

Eles vão embora, e ainda não sabem, mas além de lavarem meu sofá, lavaram meu coração das preocupações fúteis e superficiais.

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Se você mora em Manaus e precisa de lavagem a seco de sofás, bichinhos de pelúcia, bancos de carro ou lancha, poltronas, cortinas, persianas, tapetes, eu acho bom você ligar para (92) 3654-6037, 9175-8789, 9128-2484. Eles atendem em casa, inclusive no feriado e domingo, deixam tudo arrumadíssimo e o preço, queridos, o preço é mais que justo, é BA-RA-TO. Não vou divulgar valores aqui, pois o meu sofá é meio diferente, mas peça um orçamento – e pague em dobro, que vai continuar barato, palavra.

Se você NÃO mora em Manaus, ainda assim pode ligar e perguntar se o Centro de Apoio aos Autistas Nossa Senhora do Carmo precisa de alguma coisa, dinheiro, serviços, apoio, um patrocínio vitalício, livros sobre autismo.

Se você é blogueiro, pode colocar um LINK, trackback, pingback, etck, pra esse post no seu blog, com a tarjeta “Lavagem a seco em Manaus”, ou coisa do tipo. Assim, o post sobe no conceito de Deus, e quem procurar por esse serviço vai achar mais depressa.

E, se você gosta de se divertir, pode dar uma passadinha no Labib’s, nos dias 06 E 08 DE DEZEMBRO, pra comer a melhor esfiha, esfirra, sfiha ou sfirra de Manaus, comprar uma camisa charmosa, assistir uma peça de teatro onde eu interpreto, ver dança do ventre e fazer esse nosso estranho mundo, onde os autistas não gostam muito de permanecer, ser um lugar mais agradável.

LInks:

Meu álbum da lavagem no Flickr – A Lavagem do sofá

sexta-feira, 14 / setembro / 2007 at 1:32 am 25 comentários

Voltando devagarinho

Certo, vocês pediram que eu voltasse a escrever [e eu fiquei tão feliz de ver que tem gente que me lê há ANOS e nunca tinha comentado… assim, “ter gente que me lê” atiça minha vaidade, e eu, que tenho uma não-explicada  porém assumida vontade de falar da minha vida pessoal, fico contente em ver que ela desperta interesse em alguém. Vaidade das vaidades, blog é vaidade]. A Luciana disse no blog da Cláudia que vai falar mal de mim enquanto eu não voltar a postar, então eu vou voltar.

[Ah, escrever é relaxante, é bom, é terapêutico, é doce. Voltei. Bloguemia, aqui me tens de regresso.]

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Começo voltando no Morango com Gengibre. Falando sobre aquilo que apenas se pensa, em segredo.

Fantasia grupal.

No Morango com Gengibre.

[Delira, Google.]

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Amanhã, post novo por aqui.

quinta-feira, 13 / setembro / 2007 at 12:17 am 6 comentários

Uma cart…ahn, um bilhete…um post-it de reclamação

Oi. O meu nome é Classe Média. Mas pode me chamar de Clá.

É o seguinte, eu queria vir aqui dizer pra todo mundo que isso que tá acontecendo no Brasil é um absurdo. Pensem: antigamente, quem queria sair de férias sabia com antecedência o que devia fazer. Tinha que ir numa agência de turismo, um lugar com mesas de granito e ar-condicionado, e saber quanto custava uma passagem de avião.  Normalmente tinha uma tabela. Manaus-Fortaleza-Manaus, Varig, nove mil cruzeiros. Ou seriam cruzados? Não lembro, faz tanto tempo. Mas era assim. Aí, você passava o cartão de crédito e parcelava a passagem.

Todo mundo vestia uma roupa quentinha, porque avião é frio que só. E, se a roupa não fosse quentinha o suficiente, a aeromoça te dava um travesseiro e uma mantinha.  E também tinha aquela comida esquisita, com uma carne branca que podia ser frango ou peixe que dava na mesma. Mas ao menos era quente…

E é por isso que eu venho aqui protestar. Não, não, queridos, meu protesto não é contra andar com os joelhos espremidos na cadeira da frente. Nem contra as barrinhas de cereais. Tampouco contra isso de ter que ficar entrando na internet de madrugada pra tentar comprar uma passagem baratinha, pois agora os preços mudam duas ou três vezes por dia, não é mesmo?

Essas coisas de desconforto a gente até aguenta. Afinal, o importante da viagem é chegar no destino, não é mesmo? A gente se aperta um pouco, leva um pão com queijo dentro da bolsa, ninguém aqui é retirant….ops, ninguém aqui precisa ficar enchendo o bucho a dez mil metros de altura.

Eu já agradeço ao papai do céu todo dia que tive sorte de nascer numa casa que tinha colchão, lençol e TV pra eu ver o Fantástico. Jä foi uma tremenda sorte, e no mundo em que a gente vive, há que se ter sorte, não é mesmo? Porque você pode nascer num lugar civilizado como a Hungria, mas também pode ter azar e nascer num Burundi ou Burkina Fasso, e aí você já tem pontos negativos na corrida. Se você nasce num lugar feito o Brasil, você pode ter a sorte de nascer no Sãopaulominasriodejaneiro ou o azar de nascer em Itamarati, aí já viu, tá lascado. Então, eu tenho a sorte de nascer num patropi, abençoá por Dê, uma potência no esporte, tu viu na ginástica, quanta medalha? Mas do que eu tava falando? Ah, sim, eu tenho a sorte de ter nascido Classe Média, assim, sem morrer de coqueluche aos cinco anos nem correr o risco de escrever casa com “z” aos vinte e três. Tive a sorte e uma ajuda dos meus pais, que não eram bobos e pagaram minha aula de reforço, meu cursinho do vestibular e a mensalidade da PUC. E, além de sorte, a gente tem que ser esperto nessa vida. Então, eu, muito esperta que sou, sempre dei um jeito de não ter problema. O mendigo vinha pedir, eu fechava o vidro do carro pro problema dele não pegar em mim. A criança de rua tava se tremendo no chão, eu chamava o guarda pra levar aquele cheira-cola embora logo. Porque de problema, já bastam os meus problemas de classe média, como pagar a licença-maternidade da empregada.

E eu vinha sendo bem feliz nessa tarefa de evitar os problemas. Nem sempre eu consegui, não é mesmo? Quando o Collor confiscou a poupança, foi um problemão… E quando não tinha novela que prestasse, eu quase tomei consciência social por um momento, foi horrível, nem é bom lembrar. Aquela época de ficar andando em favela e ouvindo as Valdicreuza reclamando dos Uóxiton que batiam nelas. Mas isso passou logo, quem tem filhos pequenos precisa providenciar o dinheiro da creche, não é mesmo?

E por isso eu vim aqui dizer que isso de caos aéreo é muita sacanagem. Seca no nordeste, desmatamento da Amazônia, analfabetismo funcional, hospital de pobre lotado? Francamente, quem se importa? Esse pessoal não faz diferença nenhuma, não é mesmo? Tanto que o Brasil vive há trocentos anos com eles na merda, e nunca aconteceu nada de mais. A inflação que era ruim acabou, a censura que era ruim também acabou. E o país tava indo tão direitinho, eu via a novela toda noite e viajava uma vez por ano, pra esquecer das coisas ruins. Porque isso de pobreza é errado, não é mesmo, mas quem é que vai conseguir mudar isso que tá aí, não é mesmo?

E agora, isso é um absurdo. Esse país tem todo o direito de dar problema, desde que não seja COMIGO. E essa palhaçada de ficar dormindo no chão (como mendigo), andar pra lá e pra cá sem informação nem saber quando vou sair de lá (como pobre em hospital)  e ver pessoas iguais a mim morrendo de uma maneira estúpida (como os ribeirinhos que vêem os filhos e amigos morrendo de malária e sarampo) é um absurdo. Nem sei mais o que dizer, li na Vejinha que é um absurdo e eu acho um absurdo mesmo.

Por isso, acho que chegou a hora da sociedade organizada, espiritualizada e limpinha brasileira dar um basta nessa situação.Vou protestar contra a injustiça que é ser tratado como cidadão brasileiro comum. Não sei se acendo umas velas no saguão do aeroporto, ou se coloco um nariz de palhaço. Acho que a imprensa precisa ser avisada, afinal, muitos jornalistas são Classe Média como eu e viajam de avião também.  Sei que a primeira funcionária subalterna que aparecer nesse balcão vai ouvir esse meu grito que está engasgado na garganta. “CHAMA O GERENTE DESSA PORRA!”

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[Estou irritadíssima com toda e qualquer porra de demonstração de indignação com esse tal de caos aéreo dos infernos, que nada mais é que reflexo de toda a incompetência de VÁRIOS governos e empresários. Irritadíssima com o destaque que a imprensa deu pro acidente durante dois dias, e voltou a cobrir normalmente as medalhas do PAN. Irritadíssima com os comentários idiotas dizendo que esse país ficou uma desordem, sendo que o país e o mundo e o CARALHO A QUATRO sempre foram uma imensa desordem, uma imensa injustiça, uma imensa confusão, uma imensa ciranda de gatos puxando as sardinhas pras suas respectivas brasas. ]

[E mais uma prova que o país é uma desordem em várias áreas, camadas e abordagens: Sandro Viana, amazonense como eu, deu a arrancada final e ganhou o ouro junto com a equipe do revezamento 4×100 m. Ele vendeu moto, carro, fogão, geladeira e com certeza mais alguma coisa na casa dele pra conseguir viajar pras classificatórias em São Paulo. Ah, Sandro. Se você tivesse nascido na Hungria, ia ser diferente. Mas eu não sei te dizer se ia ser melhor.]

domingo, 29 / julho / 2007 at 2:49 am 43 comentários

Ulha ali de repente, maninho.

[Post suspenso temporariamente. Sair publicando coisas que não possuem direitos autorais assegurados pode me causar problemas. Compreendam, por favor.]

Enquanto isso, fiquem com uma foto engraçada. Sílvio Santos fazendo a Dança do siri, no dia 03 de junho, durante o programa “Qual é a Música?” Fotografei a televisão, juro pra vocês.

Silvio Santos fazendo a dança do siri

Alegria e felicidade pra todos nós.

segunda-feira, 16 / julho / 2007 at 12:52 am 9 comentários

Um post escrito com o coração leve e comovido

Baixei da internet “Histórias de cronopios y de famas”, do Cortázar. Em espanhol, porque em Português parece ser impossível.

Primeiro, eu vou colocar um dos contos do livro. Depois, conto uma historinha minha.

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EL CANTO DE LOS CRONOPIOS
Cuando los cronopios cantan sus canciones preferidas, se entusiasman de tal manera que con frecuencia se dejan atropellar por camiones y ciclistas, se caen por la ventana, y pierden lo que llevaban en los bolsillos y hasta la cuenta de los días.
Cuando un cronopio canta, las esperanzas y los famas acuden a escucharlo aunque no comprenden mucho su arrebato y en general se muestran algo escandalizados. En medio del corro el cronopio levanta sus bracitos como si sostuviera el sol, como si el cielo fuera una bandeja y el sol la cabeza del Bautista, de modo que la canción del cronopio es Salomé desnuda danzando para los famas y las esperanzas que están ahí boquiabiertos y preguntándose si el señor cura, si las conveniencias. Pero como en el fondo son buenos (los famas son buenos y las esperanzas bobas), acaban aplaudiendo al cronopio, que se recobra sobresaltado, mira en torno y se pone también a aplaudir, pobrecito.

O canto dos Cronópios

Quando os cronópios cantam suas músicas preferidas, se entusiasmam de tal maneira que com frequência se deixam atropelar por caminhões e ciclistas, caem pela janela, e perdem o que levavam nos bolsos e até a conta dos dias.

Quando um cronópio canta, as esperanças e os famas correm para escutá-lo ainda que não compreendam muito seu arrebatamento e em geral se mostram algo escandalizados. No meio da roda o cronópio levanta seus bracinhos como se sustentasse o sol, como se o céu fosse uma bandeja e o sol a cabeça de Batista, de modo que a canção do cronópio é Salomé nua dançando para os famas e as esperanças que estão aí boquiabertos e perguntando-se se o senhor cura, se as conveniências. Porém como no fundo são bons (os famas são bons e as esperanças bobas), acabam aplaudindo ao cronópio, que se recobra sobressaltado, olha em torno e se põe também a aplaudir, pobrezinho.

(Júlio Cortázar, Historias de cronopios y de famas. Tradução tosca e fuleira, feita por mim. )

*******************

Meu pai era preguiçoso. Gostava de comer na cama, vendo televisão. Mas em alguns dias, raros dias, ele ia até a cozinha, jogava álcool dentro de uma panela e cortava calabreza em rodelas e tacava fogo na panela, fazendo as gorduras da linguiças explodirem longe. Cortava queijo qualho em cubinhos, lambendo os dedos e espalhando migalhas pelo chão da cozinha.

Minha mãe sempre reclamava quando papai pedia pra ela comprar queijo em bloco. Ela preferia comprar queijo já fatiado, porque detestava ficar com o cheiro de queijo nas mãos. Era ela quem lavava os pratos e esfregava a panela empretecida, após o fogareiro de álcool.

Descobri que sou filha de um cronópio e uma fama.

domingo, 15 / julho / 2007 at 3:28 pm 5 comentários

O amor

Pois o amor me ensinou todas as coisas.

O amor me ensinou os meus limites, os meus defeitos. O amor revelou minhas fraquezas, minhas imensas fraquezas, e minha decisão, minha força, meu pode. O amor me fez chorar muitas lágrimas e gritar de prazer.

E este amor é que me preenche. Este amor que pulsa, que palpita, que continua, vivo e forte, apesar dos golpes dolorosos e das sentenças de morte que recebeu. O amor é vivo, o amor é vida, o amor vive e eu vivo de amor.

E eu prossigo. Prossigo chorando meus erros, prossigo ciente dos meus pecados, cônscia de tudo o que não sou. Adiante, adiante, pois a maior beleza de ser humano é a capacidade de recomeçar quando não há mais nada.

E ainda há tanto. Há a lembrança e há a vontade de esquecer. Há a esperança, uma certeza de um futuro que haverá, planos a concretizar, conversas a ter. Ainda há a minha mesma força de sempre, desta vez renovada, mais adulta, mais humilde, mais sincera.

E o amor, a luz do amor resplandecente em mim, este amor pranteado, este amor engraçado, este amor que foi simplesmente o que precisava ter sido. E que ainda é. E que se transforma, agora unilateral, agora existindo apenas em mim, agora cultuado por mim em meu altar individual e secreto.

E há os outros amores, as muitas formas de amar, as outras apostas que fazemos nessa vida de estatísticas. Há os corpos e as almas, há a geografia que atrapalha, mas sempre há a história que precisa ser contada. Há alegria e há arrependimento; mas também existe o perdão . Não tenho medo de conquistar a remissão, sei que há suor a ser entregue, sei que há muito a trabalhar.

Eu vou  em frente. Eu vou amando. Eu vou.

domingo, 1 / julho / 2007 at 1:28 pm 27 comentários

Coisas de Manauara MESMO

Eu não sei explicar como foi. Sei que aqui em Manaus, cachorro-quente se chama Kikão. Não tem nada a ver com o Kiko, amigo do Chaves.

Meu pai roraimense tinha uma explicação mítica. Dizia que, um dia, alguém comprou um cachorro-quente muito grande, que não conseguia nem morder. Esta pessoa teria exclamado: Nossa, QUE CÃO! E aí, ficou sendo kikão. Substantivo.

Eu sorrio quando vejo algumas tabelas de preço.

“Kikão – R$1,00

Kikinho – R$ 0,70″

Minha mãe paraense tem outra explicação, mais taxonômica. Cachorro-quente é pão com picadinho. [Blé, odeio picadinho.] Hot-dog é pão com salsicha. E kikão é pão com salsicha e verdura.

Ahn, e no Amazonas, “verdura” não é pepino, alface, cenoura. Verdura pode ser tempero [cheiro-verde, coentro, cebolinha, cebola, pimentão] ou…bem…o que vem dentro do kikão.

E o que é que vem no kikão? Isso aqui que aparece na foto clicaumentável, ó:

verdura

É repolho cozido, com molho de tomate, milho. Caras, isso é gostoso. Isso é muito gostoso. A gente enche de catchup e maionese, joga queijo ralado por cima. Céus. Eu passo vergonha. Escorre pelas mãos, pela cara. Nham.

Por isso que, quando eu vejo em filme americano os vendedores de hot-dog colocando APENAS uma mísera linha de mostarda, eu fico muito feliz de ter nascido aqui. Em Manaus tem kikão com verdura.

E, como eu já disse antes, eu fui no Festival da Bola da Suframa.  E lá, eu tive mais uma vez a prova que eu posso ter fé na humanidade, que ela nunca vai me decepcionar. Lá, inventaram de vender um cachorro-quente com carne de sol, calabresa, filé… E lá, eu ganhei o dia pois tive a chance de bater ESTA FOTO.

kikarne

National Geographic, me aguarde.

domingo, 10 / junho / 2007 at 2:10 am 34 comentários

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Aspas da Semana

Quando o amor vos fizer sinal, segui-o; ainda que os seus caminhos sejam duros e escarpados. E quando as suas asas vos envolverem, entregai-vos; ainda que a espada escondida na sua plumagem vos possa ferir. Gibran Khalil Gibran